domingo, 19 de fevereiro de 2012


Por Cauê Vieira*
A tragédia que ocorreu com o menino Gustavo, de cinco anos, morto por um cão em Capão da Canoa, suscita, mais uma vez, inúmeras reflexões sobre a posse de cães ditos agressivos. Obviamente, diante de um fato como esse, a primeira reação da grande maioria das pessoas, desvinculadas da causa animal, é a de crer que os cães pitbull e afins são máquinas programadas para matar, extremamente ferozes e incontroláveis.
Apesar de fazer parte do senso comum, essa ideia não é verdadeira, não em absoluto. O cão, de qualquer raça que ele seja, é um reflexo direto do seu dono, do seu tutor. Sim, tutor, pois, tal como uma criança, ele precisa de atenção e cuidados ininterruptos, seja ele um poodle ou um dobermann.
Por isso, o ponto central do debate que deve ser feito em decorrência de mais esse dramático incidente é o da posse responsável de animais domésticos, e não sobre extermínio de raça“A”ou raça“B”, ou ainda sobre culpados nessa lamentável história.
Ao adquirir, seja pela compra seja pela adoção,qualquer animal,o ser humano deve levar em conta as suas reais capacidades.Por suas, digo a do humano. Explico: um animal necessita de muito mais do que comida e um lugar para viver. Da mesma forma, necessita muito mais do que simplesmente carinho e afeto.Um animal precisa,nessa exata ordem,de disciplina,exercício e afeto.
Disciplina para ser educado a obedecer aos limites impostos por seu líder. Caso contrário, ele assume, a contragosto, a liderança em uma casa, fato de extrema complexidade em sua reversão.Exercício para não ficar com energia acumulada, que pode explodir a qualquer momento, seja em um ataque a pessoas, seja em um ataque a objetos. Costuma-se dizer que “cabeça vazia é a oficina do Diabo” nos homens. Pois bem, com os animais não é diferente. O responsável por ele deve proporcionar exercícios diários, tanto físicos quanto mentais.
E por fim, afeto, haja vista que a criação de um vínculo de liderança rígida sem afetividade não oferece o mesmo resultado do que em casos em que o laço entre homem e animal atinge a mais pura, verdadeira e gratuita cumplicidade e respeito mútuo.
Há de se garantir ainda acompanhamento médicoveterinário, adestramento inicial e de manutenção, alimentação adequada, castração para evitar crias indesejadas, chipagem para identificação do animal, dentre outras. Providências a serem tomadas por qualquer ser humano para que possamos ter o que cognominamos posse responsável.Se a pessoa entende essas regras básicas, crê ter condições de proporcionar ao animal tal tratamento, devese passar para a próxima etapa, igualmente fundamental: conhecer o que se está levando para casa. Qual o objetivo de ter um animal? Companhia? Segurança? Diversão? De posse de tais respostas, deve-se buscar ajuda profissional para encontrar a melhor raça e espécie que nelas se encaixe.
Isso posto, é possível afiançar que um animal tratado desde o início com tais cuidados dificilmente será notícia sob o aspecto negativo, seja ele um pequeno cão de companhia ou um dogo argentino de 80 quilos.
O homem criou praticamente todas as raças que conhecemos a partir dos lobos.Desincumbir o homem agora de lidar com elas é,no mínimo, uma covardia atroz e um atestado de imbecilidade que não se pode admitir.
Certamente teríamos que ter mais regramentos para a posse de animais ditos agressivos, talvez até avançando para uma habilitação para o proprietário. Lembro, contudo, que leis responsabilizando os donos existem às pencas. Fiscalização existe na medida do possível, sendo necessário, sim, ampliá-la. O que não temos, então, é a necessária educação da sociedade em relação à posse responsável de animais. É esse o caminho da necessária evolução da nossa sociedade

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